Não rimo, criando e fugindo de esquemas me sinto:
o tempo ainda me tem, eu ainda não tenho o mar.
Verso é um sussurro, uma prece em timbre de flor
que ressoa em cada sílaba ecoando
gemidos no infinito do pequeno espaço do quando.
A rima não vem, escorrego na lágrima e descompasso.
Rima é uma figura, de linguagem que tem dois
ou mais filhos-palavras semelhantes, por vezes do além.
Essa noite me disseram que eu preciso de estímulo,
busco-o nas letras rejuntadas em mim:
palavras são pétalas delicadas,
botões que desabrocham em versos.
Escrever pode ser cura, bagunça,
libertação dançando no compasso dos dedos.
Palavras também se apaixonam, se entrelaçam.
Possuem lares em lugares tão imensos quanto uma célula
que formam organismos quando se abraçam.
Creio na possibilidade do impossível
e cada verso por escrever é uma janela para o infinito.
Estímulo é ação? Se é verbo, arrimo a rima, aí ‘anima’.
Criatividade nos salva ou nos judia?
Em santuário de versos tem abraço em palavras
que reverberam, e de tanto esse sentir o verbo esqueci
aquilo que deixei por dizer, me perdi imune
na palavra escrita com amor e devoção.
Verdadeira inspiração ecoa timbre até em linhas finais.
Acalmo minhas vendas que não me servem mais.
Morte é um diapasão ao contrário, bagunça a gente,
nebula as palavras, taca elas dos céus como cadentes,
fico fingindo nadar, afogar, não quero rimar.
– P.V.
A noite não é pra conselho, por si ela é o estímulo
pra corações descompassados que fibrilam
ao remar o dia a dia sem rima.
O crepúsculo é pra joelho, a noite é para olhos no espelho:
quanto de mar há na lua e de luz nas estrelas,
sóis que afetam e tecem nossa teia?
Que os insetos diurnos se prendam nela
para que sirvam de alimento às entranhas,
pra que alteiem as montanhas e, como um cipreste,
possam nossos dedos tocarem as palavras sem som
do verbo oculto no céu, a única e eterna rima com a vida.
Só ele determina o ritmo no diapasão do coração,
só ele tem o sim quando a tudo dizemos não,
só ele dá o choque do retorno à vida
quando só na morte encontramos guarida.
– T.J.
Gosto, quando floreio textos com palavras de flor
…e você lê, exatamente nas entrelinhas
os espinhos que ferem a palavra que engasgo.
Porque morte é um deus que escreve em pontos finais.
Ponto final é descompasso da vida,
só entendo pontos em reticências
porque são três e após trindade tudo pode nascer
ou deixar fácil e brutalmente de viver,
às vezes deixar por dizer uma esperança
de um estímulo que fibrila e reanima.
Você prova que ninguém é louco sozinho,
que sempre há um par desvairado
nas madrugadas de almas atormentadas.
– P.V.
Gosto, de ser o beija-flor das tuas flores
respirar as tuas palavras arteiras
incompreensíveis para bem-te-vis e quero-queros
cheios de gritos e lero-leros.
O descompasso é passo que cambaleia,
é sístole e diástole misturadas
como as pedras e o pó de uma estrada
no caminhar com asas de sereia.
É voar no mar de ar com uma estrela
que quando a aurora chega ela se apaga,
pra dar lugar à névoa da alvorada
e a lua recolher sua nadadeira.
– T.J.
É nas asas daquele que mantém a flor beijada
que consigo sair do sufoco das palavras insondáveis.
Palavras artesãs e alheias se aproximam
no compasso que cambaleia, e o descompasso nos leva
do chão batido, combalido, a uma movediça areia.
Eu, caminho alada pelas melodias de sereia,
no mar de ar voamos com estrelas no peito,
sístole e diástole voltam a se querer, se entrelaçam
nos convencendo a voltar para a dança da vida.
E vamos, fingindo novamente que não há pontos finais
assim como as pedras e o pó na estrada percorrida.
E a lua com sua nadadeira, recolhe-se,
deixando-nos envoltos na teia do sonho.
A aurora rompe o véu e o enlace de versos
no universo da poesia que floresce ao sol como melodia.
– P.V.
Loucuras e falta de rimas reservados
Patricia Volpe & Tón Jofer