Deus esculpiu a alma, o diabo, astuto, veio em segredo e a pele criou, bruto. Película que esconde seres profundos, nas dobras, desejos em queda nos sulcos.  Deus fez a alma, mas a pele é o manifesto, e no caos dos sentidos, o amor é o protesto. Mas, é fácil nos tapearmos com a pele, que se dá a qualquer afago quente, ou, nos estapearmos devido a um afago frio.

Na linguagem dos dedos, versos podem ser escritos, e cada carícia almeja ser poema em corpos aflitos. O diabo, no calor da pele deixou a sua marca, que entrelaça almas em ritmo embriagante. Como um laço entre o divino e o profano, a pele, da trama da luxúria, é o plano. Assim caminhamos em vida, feitos por Deus e embrulhados pelo diabo. Pele é foda, o epicentro do pecado bravo.

Deus fez uma enxurrada de assombros, mas o diabo, astuto que é, achou o seu pedaço de terra na criação: a pele. Pele é coisa desassombrada, é um sopro da confusão divina. E ela, com seus enredos de borboletas entrelaçadas, se tornou o território onde ele, com olhos de estrelas desalinhadas, deixa suas pegadas de silêncios em gemidos sugestivos .

Trata-se dos deslumbres do desassossego, uma Odisseia pelos rincões da alma torna-se cada vez mais distante, pois na pele, o diabo dança suas coreografias dos desejos diversos, é ele quem faz o tic-tac com os segundos roubados ao tempo.  É uma dança feita de prosa sem rimas que se entrelaça na teia do proibido, onde a pele, no seu desatino de ser, revela a saudade do que ainda não foi dito e a ousadia de poder ser poesia caótica que não se sabe ler, um caminho para o abismo onde se cai no deslumbre do não saber.

Na linguagem do diabo, as palavras são ventanias de desejos roubados e perdidos, e a pele, feito papel em branco, é o lugar onde a paixão se desenha. Entre nós e a pele, vive um labirinto de asas feitas de sensações, onde a alma, inquieta, vive embriagada pelos tic-tacs, dos arrepios no tato a tato dos momentos perdidos no Tempo, esse bobo que só sabe correr e nunca dançar.

Em resumo, a pele é foda.