Na era da estética avançada, onde salva-se rosto, corpo e cabelo, pergunto-me: quem ou onde salvamos o que há dentro? Minhas rugas contam sobrevivências. Desloco-me com rugas internas, caminho com sulcos por dentro.
Aprendi a desbravar os territórios escondidos de mim mesma, como um ser selvagem no matagal da alma. Curo traumas, não os destruindo, mas nutrindo as raízes, e fortaleço os laços daquilo que tece a trama dos meus dias.
Entendi que as tormentas são temporárias, mas o crescimento é eterno.
Traço meu caminho na penumbra das emoções, onde os claros se confundem com sombras, como se as palavras fossem penas de um pássaro que voa entre os ramos da melancolia dentro de mim, batendo sem querer aqui e ali. Estou a melhor versão de mim.
No calendário do viver, celebro uma idade nova, não marcada pelo relógio, mas por velas que contam histórias, risos e lágrimas. Aniversário é como se o tempo se sentisse a própria eternidade. Entre todos os eu’s que vivem em mim, desenvolvi alteridade.
Lembro-me vagamente dos sonhos que eu tinha quando criança. Lembro-me de criar heróis improváveis e aventuras extraordinárias em coisas simples, já fui uma exploradora destemida, desbravando florestas encantadas ou galáxias distantes. Talvez, em algum lugar nas dobras do passado, existam fragmentos de mim mesma que deixei para trás.
Em idade nova, sou pássaro que desafia as gaiolas do tempo. E brigo com o tempo todo o tempo. Ainda hoje, as asas da imaginação sempre me levam além dos limites do que é tangível, e em meus olhos, alimento uma lente de encanto que persiste na infância perdida.
Que as velas do bolo iluminem não apenas o passado, mas também o caminho à frente, e que eu nunca tema o desconhecido. Como um recém-nascido.
O presente é o melhor presente.