A beleza da escrita hoje, reside na impossibilidade de apressar a sua leitura. Existem limites na velocidade, um respeito pela pausa que permite absorver, compreender e acolher o conteúdo. Hoje a calma, que é a base para a compreensão profunda, é subjugada pela urgência de se mover incessantemente. É na brevidade do encontro entre o agora e o já ido, que se revela o delicado desequilíbrio entre o fugaz e o eterno na era acelerada.

Se não há tempo para as coisas do espírito, não há espaço para ele,
Visto que espaço e tempo caminham juntos.

Na era vertiginosa da tecnologia, o áudio acelerado é uma metáfora poderosa para a sociedade contemporânea, uma marca da Besta, como diria minha vó. Assim como um rio que perde a serenidade na velocidade da corrente, os áudios apressados comprometem a contemplação, a reflexão e a sacralidade da comunicação, aquilo que há nas entrelinhas, na pausa da voz. É a erosão do sagrado, antes encontrado nos momentos de reflexão e contemplação, agora arrastado pelas águas velozes da instantaneidade.

Áudios acelerados, qual rio desenfreado,
Levam consigo a pausa, a calma, o sagrado.

Na era dos reels, a arte outrora um caleidoscópio de nuances, agora se transforma em breves instantes, flashes rápidos, como fogos de artifício que se apagam antes mesmo de iluminar completamente o céu. Este fenômeno contemporâneo suscita opiniões diversas, alguns apreciando a intensidade concentrada de informações, outros lamentando a perda da contemplação profunda que outrora caracterizava a experiência artística.

A arte, em tempos de pressa, perde o viço,
Torna-se mercadoria em prateleiras de serviço.

A pausa, que é a respiração da música, é engolida pelo ritmo acelerado, como se o rio da pressa não pudesse se dar ao luxo de parar para apreciar as margens do silêncio. São músicas em rápidas pinceladas tentando prender a emoção, buscando freneticamente por rápida conexão. Estão acorrentadas na busca por prender ouvintes, em poucos segundos tentam ecoar na alma apressada, gritando em acordes fugazes e letras banais para prender atenções distraídas.

Músicas cantam sem a melodia do tempo desacelerado,
No compasso apressado dos tempos, a música se fragmenta
E em efêmeros segundos, nós entrelaçamos nossa velada tormenta.

Na enxurrada de tempos digitais que ditam nosso modo de ver o mundo, nesse universo de relances e cliques somos nós encaixotados, comprimidos em míseros 30 segundos, tentando destilar a complexidade de nossas essências. O que resta de mim quando sou reduzido a uma dança coreografada de pixels? Quem sou eu em 30 segundos, tentando convencer o mundo em movimento? O que sou não cabe em segundos, somos vastos e profundos, ou deveríamos ser, nascemos para ser.

Como se a complexidade do eu coubesse em meros trinta,
Numa caixa estreita, tento me definir em segundos breves,
E na corrida da modernidade, a eternidade some como neve.

Na tentativa frenética de me apresentar, me debato como um peixe fora d’água. Em 30 segundos viramos fragmentos de nós mesmos. É a transformação dos seres em códigos binários, perdendo a complexidade que só o tempo, esse grande artesão, pode esculpir.

O eu encaixotado, na ânsia de ser resumido,
Perde a essência no enredo comprimido.

A pressa incessante pode nos afastar da essência mais profunda da arte e da comunicação, onde a verdadeira riqueza reside na apreciação lenta e na absorção plena do significado. O ser humano para caber está ficando raso. A produção de conteúdo está refém do raso.

 

 

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