Na roda do tempo comum, onde bichos e homens dividem a mesma poeira, há uma história que o vento conta sobre os animais de estimação que se foram. Não eram só passarinhos, gatos ou cachorros, mas camaradas de penas, patas e pelos, que enfeitaram a solidão se ser humano com suas patifarias e alegrias.

Já perdi uma grande amiga e mestre de quatro patas, um ser que não entendia de palavras, mas mergulhava nas entrelinhas do coração apenas com o olhar. Animais de estimação nos ensinam sobre uma saudade que vira flor silenciosa desabrochando nos espaços vazios da casa, é um diálogo sem palavras com o tempo.

No reino sagrado dos bichos, onde as palavras são inúteis e os sentimentos se traduzem em cheiros, gestos e olhares, o vazio da ausência é um poema escrito nas pegadas de abraços marcando nossa roupa limpa, que não se repetem mais. Restam as memórias, pequenos fragmentos de alegria e ternura, como conchas deixadas pela maré da convivência.

Minha amiga de quatro patas, por exemplo, agora habitante do silêncio, ecoa nos suspiros do vento de minhas lembranças vez ou outra, e na nostalgia que se aninha nos cantos da antiga casa, da minha antiga vida. Eu disse a ela em seus últimos minutos de vida: foi uma honra te conhecer e contigo conviver!

É sobre isso, sobre honra…mais do que amar um bichinho de estimação, honra é ser amado por eles.

Depois de perdas desse tipo, nos basta sentarmos à beira da ausência e deixar que a natureza nos ensine a lidar com a metamorfose da perda. Deixar rolar as lágrimas, como orvalho da manhã, para alimentar a terra onde florescem as boas lembranças.

 

 

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