Na pele do mundo, um abandono ecoa,
Onde o amor, a ternura, a esperança se escoam.
Em cada rua, um cão sem dono vagueia,
No olhar perdido, na noite de almas alheias.

Olhai para o abandono com olhos de poeta,
Num mundo onde o abandono é rima secreta.
Fisicamente, um vazio, um desamparo,
E as emoções desfolhadas, sem amparo.

Mas não é só o físico que se abandona,
É a alma, a mente, a promessa que se entona.
Um projeto inacabado, uma ideia desfeita,
No silêncio das palavras, a dor se deleita.

E na vastidão dos campos, a responsabilidade se evade,
Deixando-nos à deriva, como casa vazia que se invade.
Somos todos cidades abandonadas, testemunhas do tempo,
Onde o passado e o presente se entrelaçam no vento.

Mas há beleza até mesmo no abandono,
Nas ruínas, nas cicatrizes, no abraço de um sono.
Manoel de Barros encontraria poesia,
Nesse abandono que nos desnuda em melancolia.

E Lispector, com sua escrita visceral e crua,
Enxergaria nas entrelinhas a essência nua.
No abandono, há uma verdade que se desvela,
Um convite à reflexão, à busca por uma janela.

Assim, na tessitura dos dias, tecemos o poema,
Do abandono que nos rodeia e nos leva a esquemas.
No diálogo com o abandono ecoam versos,
onde encontramos nossos destinos diversos.

A dor do abandono, é poesia crua,
Uma dança entre o vazio e a alma nua.
Fazer da dor um renascer no caminho,
Mesmo no abandono sombrio e mesquinho.