Basta um primeiro ‘dia das mães’ sem a presença daquela que me faz ser mãe que, na ferida aberta da minha carência dá para enxergar as entranhas da minha alma. É como se a fome de afeto fosse o combustível para minha existência, a carência torna-se é um rio turbulento que arrasta consigo as margens da minha identidade retalhando os tecidos mais íntimos do que sei ser.
É como se cada vazio fosse um universo em apocalipse. Nessa dilaceração da carência, é como se a vida ficasse desgastada pelo sol. As sombras dançam em desespero e entre os escombros da minha própria solidão, tento resgatar fragmentos de mim mesma enquanto o vazio se torna um rio sem margens.
Sinto cem vazios, sentada no canto de uma rua esquecida como uma mendiga solitária que estende a mão, abandonada pela apressada multidão. Não é uma carência qualquer, mas um abismo que se estende para além do horizonte dos sentidos. Nesses momentos dá para criar a poesia de minha própria decadência. Viro o próprio labirinto.
Sei que esse é possivelmente o primeiro de muitos outros ‘dia das mães sem filha’ que virão pela frente. Como dizem, isso é natural. E sei também que, minha carência será sempre a mesma, nem um grau a menos.