A vida nos cutuca com cada amanhecer. Não permite o conforto da inércia, exige respostas, mesmo quando o silêncio parece mais seguro. O tempo é um açoite constante que nos arrasta pelos dias, sem piedade, sem democracia. E a fé é uma chama vacilante, dança ao sabor dos ventos impiedosos da existência. Fé não é uma linha reta, mas uma corda bamba estendida sobre o abismo dos fracassos de todo dia. Ela oscila, cresce, encolhe-se e, por vezes, parece desaparecer, me deixando na escuridão gélida da desesperança de me ser.
Cada amanhecer traz consigo a árdua tarefa de encontrar significado nos escombros dos meus sonhos desfeitos. Sou obrigada a responder aos golpes da vida, a buscar sentido nas feridas abertas, a extrair valor em cada um dos confrontos que me dilaceram. Continuo. Não por força, mas por uma certa raiva, uma recusa em sucumbir. Não por escolha, mas por uma necessidade visceral de aqui existir. A existência é um enigma insuportável. Sim, em cada dor há um aprendizado, mas também há no silêncio do fim do dia, um grito abafado.