O próprio peso é maior quando há duas de si. Cansa. Desgasta. Sou um mosaico de emoções desiguais, quebradas. Disfarçadamente recolho cacos de mim nos dias que nem me percebem. Sou limítrofe, contida por um imã de conflitos que fica me lançando contra as paredes de mim mesma. Na borda das polaridades, meu ser se contorce e se desdobra.

Às vezes quero ser um milagre, a flor que brota em meio ao asfalto, na contramão do que se espera. Outras vezes quero ser podada e cair por terra, virar húmus, não ter o trabalho de viver: sonho com um corte profundo que sangrasse até meu último vestígio de esperança, só para provar que ainda estou viva, que meu ser ainda me importa.

Vivo num mundo de extremos, onde a bipolaridade me arrasta para abismos de euforia e desespero. E esse cabo de força acontece em um campo borderline, um terreno emocional onde tudo é amplificado, como se eu estivesse vivendo cada sentimento com o volume no máximo.  São momentos de pura criação seguidos por buracos negros de solidão e desespero.

A luta é real, os sintomas são mais que rótulos – complexos. Sofro de manias, viro furacão de criatividades, festival de ideias, quero salvar o mundo e o universo parece meu quintal. Em dias de hipomania, planto estrelas vibrando num chão de ideias que mal chegam e já querem nascer. Há um brilho nas coisas mais miúdas – cada som, cada cor, tudo me faz sentir um pouco maior do que sou. As palavras saem ligeiras, como quem tem pressa de viver. Sinto um fervor no peito que não sossega, feito formigueiro, um alvoroço que me faz pular o tempo todo entre o querer tudo e o já ter esquecido o que queria.

Mas de um dia para o outro, na calada da noite me roubam a alma. Acordo com a tristeza sentada ao lado da cama e me dou conta do vazio que sou. Tenho pressa de morrer. O corpo parece doente, como se tivesse levado uma surra. O simples ato de levantar da cama se transforma em uma batalha monumental. Aí, tenho que escalar novamente a solidão em busca do sol, me arrastando pelos dias, no mudo, desejo ser salva pelo mundo.

De um polo ao outro, o corpo cansa de tanto que a alma vai e volta, a energia é drenada nessa dança entre euforia e exaustão. Entre o céu e a terra, sei onde está o medo de não caber em lugar nenhum. Quero cortar meus polos e pular da borda. Dias e dias. Hoje, exausta de mim.