Na dança do meu nascimento, tico-tico cortejou,
Gavião ou saracura, o oito ou oitenta me atentou.
Nasci humano, criatura insossa do sentir,
Dedico erros, doces e patéticos, a um coração a se iludir.

Forjado para ser meu, ele persiste em pertencer ao próximo,
Maestro a reger passos, tropeçando rumo ao porvir próximo.
Eu e o ser em meu peito, rivais em flerte fatal,
Felino que acaricia afeto, leão furioso neste palco animal.

Paz e tormenta num coração que se defende,
Libertário dos sentimentos, alma que se estende.
Dias me disse, meu coração a sussurrar,
Largue as culpas, pare de se martirizar.

Seja o protagonista, no palco da vida, ator,
Sem ensaios, sem colas, sem dramas de amador.
Aprecia o que inspira, o amor que aquece e lacrimeja,
No olhar da mulher, do homem, na criança que reverbera.

Nos lugares errados buscamos, em coisas e razões,
No preço da ilusão, nos abandonos e nas decepções.
Nosso melhor é suficiente, não em fazer, mas em ser,
Sem esperar migalhas, o próximo ato é o não saber.

Na partitura do tempo, o amor é a cadência,
Em versos e prosa, nem tudo é coerência.
A vida toca, histórias em estrofes se tecem,
E a cada passo, quero notas que estremecem.

No poema do existir, em rimas e silenciosos vãos,
Dança a vida sem métrica, com a gente em suas mãos.
Entre a cadência do tempo, na poesia que se refaz,
Em versos livres, merecemos a paz.