Eu queria mesmo é que minhas palavras fizessem parte do chão, do lugar que ninguém olha, desconsideradas por quem esvazia a palavra amor, por quem não fala língua de coração. Invisíveis para aqueles que vandalizam sentimentos alheios por não lhes satisfazerem as expectativas.
Queria que minhas palavras de joelhos nunca fossem lidas por pessoas razoáveis. Pois a razão de que falam os razoáveis e seus semelhantes, não é senão a faculdade lógica que examina as coisas sensíveis com íris individualista para delas extraírem a sua razão.
Que tapem os ouvidos para não ouvirem poesia quem não conhece nada além das coisas sensíveis, as aparências da vida deste mundo. Ainda bem que poesia que é poesia, tem feitiço em sua origem! Nasceu dele, ou com ele, quem sabe não foi a poesia quem deu à luz a magia. Mas “a culpa é da Eva”, foram as palavras ao avesso, fracas e desleais, talvez a primeira das mentiras.
Graças aos Deuses que poesia não espera ter a mão de alguém, é especialista em seguir com as mãos no bolso, guardando o que o tempo a presenteia para si mesma, aprendendo as cores dos gostos, os cheiros dos pássaros, e os ruídos dos rasos. Poesia segue, buscando seu sonho de ser melhor um dia.
Sim. Pois ser poesia não significa estar certa, muito menos perfeita. Ela só não faz questão de caber na razão lógica dos razoáveis: prefere fazer parte do chão, desconsiderada. Vista apenas por aqueles que enxergam corações por trás das palavras, sejam elas doces ou amargas.
Ninguém é competente para descrever alma aflita e em meu mundo, palavra é sinônimo de ação, palavras são sagradas. Palavras são capazes de criar céus e infernos e de salvar quem nelas acredita.
A palavra honestidade, por exemplo, tem origem no latim honos, que remete para a dignidade nas ações e honra com aquilo que foi confiado a você, entregue a você. Verdade sem amor é brutalidade, e amor sem honestidade que é hipocrisia.
É. Tem que ser assim mesmo, tem que ser rés do chão para entender, penetrar, sentir o sangue da vida de outro coração. Que texto lindo.