Não rezo por bens materiais, rezo pela sorte – a baita sorte – de ter um amor que faça a Terra se erguer como catedral dos suspiros, onde arco-íris se despe de cores para vestir-se de recolhimento. Um amor que se torne passos, lentos e cadenciados, atravessando os campos do espírito e dos planetas no céu, tecendo um manto de preces entre as folhas caídas dos medos e os raios de sol tímidos dos erros.

Quando amamos, os dias viram folhas velhas de um livro amarelado pelo sol da eternidade, nos sentimos borboleta que, apesar de efêmera, carrega consigo a delicadeza de todas as primaveras. Quero amar para me sentir poeta, com meus versos desalinhados sorrindo na varanda do tempo ao ver minhas palavras se tornarem asas, a dança simples se tornar ritual, a vida se despir de excessos.

Sempre acreditei que quando um grande amor é consumado na terra, na senda dos antigos o povo eleito remonta o tempo, recordando o êxodo das almas aprisionadas e ensinando-nos a superar as dificuldades, a perdoar, a lutar pela comunhão.

Sob a sombra da história, o amor é capaz de marchar guiado pela luz das estrelas e pela promessa de liberdade. No amor, as mesas são preparadas com o pão da humildade e o vinho da esperança é derramado em cálices de fé. Os ritmos antigos ecoam lembrando-nos da eterna dança da vida e da morte, da renovação constante que se esconde sob a superfície do mundo.

Mas, talvez, isso tudo seja só o meu sonho de menina, de quando eu ainda tinha bonecas e muitos sofrimentos pela frente. Se for sonho, quero morrer sonhando.