Erro é uma fresta por onde a vida real se infiltra, desafiando a perfeição que nunca existiu. Cada falha é uma promessa de novos começos e a briga por razão, é inversamente proporcional à dimensão espiritual dos indivíduos envolvidos. Nas falhas humanas, no emaranhado das trilhas mundanas, estamos todos perdidos entre chegadas e partidas, como formigas desajeitadas nos desvios da vida.

Somos rascunhos em constante revisão, sempre buscando ser mais. E ser mais não é um ponto de chegada, mas um caminho, uma direção que escolhemos seguir. Os objetivos que traçamos não devem ser o objeto principal de desejo, mas apenas bússolas que nos orientam na caminhada, o sentido para onde estamos indo. Destino é verbo que não se prende a substantivo, ele caminha em movimento com a gente.

O desejo não é o fim, mas o meio pelo qual nos movemos, em direção a algo que talvez nunca alcancemos, mas que nos faz seguir adiante. E os encontros pela vida são colisões de mundos, que ampliam ou diminuem a vida que escrevemos na memória. Na terra, mãe de todas as raízes, somos todos jardins suspensos de memórias. Somos cuidadores de sonhos, jardineiros da esperança.

A vida, essa incógnita vestida de rotina, nos aprisiona nas teias da sobrevivência. Mas, no meio do emaranhado há um segredo: estamos vivendo. E a vida nos convida a ser mais do que sobreviventes – nos convida a ser criadores de mundos, mesmo que esses mundos sejam feitos de sonhos ainda não realizados.

Às vezes, a vida também parece feita de pedaços desimportantes, como gravetos jogados no chão de um quintal lindo. Vivemos em pedaços, em partes que se juntam e se desfazem no mesmo movimento. Viver é permitir que a vida nos atravesse. O medo costuma ser um sonho vestido de covardia.

A fé, é um salto no escuro, mas é também o colo amoroso que nos acolhe quando caímos sem esperanças. E é nesse soltar que mora o milagre. A fé é também rebeldia. Quem acredita de verdade, às vezes se revolta, questiona o próprio silêncio de Deus, como se a rebeldia fosse a outra face da confiança. Ter fé é ousar perguntar, sem medo de não gostar da resposta ou, pior, de não ouvir nada. A fé, legítima, se debate, tem de ser contestada em algum momento, pois quem nunca enfrentou a tormenta, ainda não conheceu sua própria profundidade.

Esses dias percebi, como quem descobre um segredo, que sentir o amor se aproximando é como perceber o vento antes dele tocar a pele. Ele chega sem aviso, como quem já sabia o caminho. O amor não chega de uma vez, ele vai ocupando os cantos, as frestas, até que não haja mais onde ele não esteja. O amor se aproxima pelo espaço que fica entre o que já é e o que está por vir.

Somos rascunhos de esperança, esboços de um sonho que se recusa a ser concluído. Dessa vida levamos apenas nossa alma.