Sou feita das memórias que me habitam,
das histórias que vivi e das que nunca contei,
das lágrimas que chorei e das que engasguei.
Eu sou feita de restos e resíduos,
um amontoado de achados e perdidos.
Sou os pedaços de sonhos que outrora,
escaparam pelas frestas da memória.
Sou as palavras não ditas e os versos inacabados,
os suspiros contidos e os sorrisos desperdiçados.
Sou feita de lágrimas vertidas e de risos contidos,
de abraços trocados e de adeuses não ditos.
Eu, um trambolho de tesouros e extravios.
Eu sou um desfile de acasos enlaçados,
um mapa de questões entrelaçadas.
Sou o eco de sons que se perderam,
o retalho de memórias que esqueceram.
Sou o musgo que se esconde nos muros,
a planta de riacho que sussurra murmúrios obscuros.
Sou a gota d’água no oceano imenso,
o silêncio que cantarola culpas imerso.
Sou o sonho que se perdeu na madrugada,
a esperança que me remedia em cada jornada.
Sou um amontoado de achados e perdidos,
um emaranhado de destinos em rasgados tecidos.
Sou a busca incessante pelo que se foi,
e a aceitação serena do que não foi.
Eu sou Patricia, a aprendiz do absurdo,
na alquimia das palavras, dos eternos mudos.
Sou a poesia em sua forma desalinhada,
o canto das coisas que sonho, numa vida desesperada.
Entendi que nunca fui, e não sou, mas estou,
e buscando sempre ser o que quero ser,
percebo no movimento do viver
que eu sou o ‘eu sou’.