É de um canto do universo onde o chão é de silêncio que nascem as almas barulhentas. Elas são feitas dos restos de pó de estrelas que já morreram mas que não querem sumir, misturadas à matéria de borboleta, sensíveis ao toque das palavras. São aquelas que carregam o peso do mundo em suas veias, cujos corações pesam como pedras e a alma se esgarça nas bordas do sentir.
Esses tipos de almas vivem a colher tristeza em vazios de poças, caminhando no limiar da poesia e do absurdo. Carregam nas costas a promessa de voo em suas asas transparentes, mas não voam, porque o sentir demais as aprisiona no chão, em sua sina entre o êxtase e a angústia. O sentir é para essas almas um campo vasto de formigueiros, e a vida, um trovão no peito.
Nesses corações, cada emoção é uma onda que arrebenta na praia da existência, desfazendo os próprios sonhos como castelos de areia. São seres que são paisagens desertas, onde até o vento se sente solitário. Almas que possuem uma solidão que se assemelha a um estado de espera, que não é apenas ausência, mas uma presença intensa de si mesmo.
Paradoxalmente, essas almas, mestres na inabilidade de viver, são exatamente as que possuem uma força bruta na vontade de viver, uma raiz que rompe a pedra. Porque, ainda que sentir seja dor, entre o sentir demais e a vontade de morrer, há a fome de viver, como um campo de girassóis que se curva ao sol.
São ‘almas crepúsculos’, pois é no crepúsculo que o sol toca a noite e a escuridão toca a luz, como se fizessem parte da fronteira invisível entre a loucura e a razão. E a loucura é um passarinho que faz ninho no olho da gente.
Para essas almas, Deus é uma esperança. Essas almas são como um amor que se atreve a existir, mesmo quando o mundo diz que não deveria. Que, por não saberem viver, tentam aprender a morrer. E, por não saberem morrer, tentam aprender a viver.