Às vezes, pessoas escorrem lentamente de nós, como areia fina entre os dedos, e nós também perdemos os outros da mesma maneira. Às vezes, o processo é tão gradual que nos ilude, nos escapa à percepção, a perda se disfarça em pequenas ausências até que, de repente, o último fragmento some.
A Vida, essa debochada de berço real, assiste, com sua simplicidade genial, quem permanece e quem parte. A seleção é natural, como um capricho do destino que, por vezes, nos deixa perplexos diante da sua sabedoria assustadora. E a Vida, imprevisível e soberana, canta cantiga para a dança ininterrupta de partidas e permanências, um espetáculo que por mais que tentemos compreender, nos escapa como um mistério insuperável.
Assim, a Vida se desenrola, tecendo o intrincado padrão das nossas relações, rindo e chorando ao assistir as nossas decisões sobre quem se mantém em nosso caminho e quem é levado pelas correntes do tempo. Tem que se ter cuidado, pois às vezes, quando a cantiga da vida para, quando nos damos conta do vazio que resta, é tarde demais para consertar, pois as peças se perderam, a essência evaporou, deixando-nos apenas com a memória do que um dia foi ou, com a falência do que poderia ser.
Existe o vazio saudável, aquele que vira oficina para consertos e crescimentos, e existe o vazio amargo que nos adoece na falta. Num mundo onde o eco das palavras se perde na voracidade do tempo, deixe-me buscar o rastro sutil das suas enquanto você busca as minhas, como se fossem pérolas ocultas na areia da memória de todas as vidas que já vivemos. São palavras que cochicham na ausência do que amamos em nós e no outro, como poeira curandeira de estrelas, que brilha quando o olhar se volta para aquele vazio sem valor, que nos adoece.
São dos machucados que nascem as pérolas, e quanto maior o machucado, maior e mais valiosa é a joia que temos a oportunidade de forjar. Mas, a cada encontro algo se despede, como as ondas que beijam a praia e retornam ao mar levando consigo o que já foi, pronta pra voltar em seguida e levar também o que está sendo. Mas o que ninguém sente é que, a cada escolha e ação nossa, existe uma constelação no céu querendo brilhar através de nós, torcendo para que escolhamos sempre e corajosamente o amor.
E o Tempo, esse artista impiedoso que esculpe nossos dias, parece teimar em escassear sua dádiva. Que mania tem o tempo de não dar tempo! Pelos corredores do cronos, andamos, como ávidos colecionadores de sei lá o quê, sempre em busca de algo a mais. O caos, meu caro, é o tempero da existência, a pimenta que nos faz saborear cada instante como se fosse o último.
A cama, refúgio do Tempo, é onde as fronteiras do eu se diluem. Entre lençóis, pensamentos perdidos e achados, a busca pelos sonhos se desenrola, e é na aparente inércia que se desenha o movimento mais profundo. É na pausa que encontramos o ritmo mais belo do Tempo.
Que a sua jornada pelo tempo seja um lindo e suave balé contínuo, onde o caos e suas buscas se entrelaçam como amantes épicos, produzindo a mais sublime de suas encarnações. Que as suas escolhas sejam uma sinfonia que ecoe suas palavras e decisões para a eternidade do seu ser. Amém.