Somos feitos de mar. Ninguém me convence do contrário, embora eu acredite em contrários: somos feitos de mar. Quando vazamos a epiderme, quando a nossa alma escapa pelas lágrimas, é o sal do mar a nos alagar, e alargar.

Meu passado é a referência que me projeta. Não há fuga para aquela que vê minha vida pelo lado de dentro dos meus olhos, aquela que sente por trás do meu coração gente. Talvez passado não deixe espaço para liberdade afinal e, não dá para comunicar o sabor da minha vida.

O porquê as coisas acabam está no cerne, na medula da experiência humana. Para integrar todas as nossas partes nessa jornada, confrontamos sombras e opostos. Para alcançarmos a totalidade, enfrentamos a impermanência de tudo, a morte de tudo o que nos parecia ser eterno. Desafiados a encontrar significado na transitoriedade, esperamos a vida após a morte, principalmente quando a sentimos por perto, grudada em nós, quase como um desejar.

Passam as oportunidades de valorizarmos o tempo que temos. E dói. Falta ar, na garganta, no escuro, no silêncio, nos planos. Falta.

Histórias se desenrolam em fios de seda dourada e depois se desfazem, como novelo se soltando desembaraçado nas mãos do destino. Fica apenas uma casa de memórias, daqueles que um dia foram o centro do mundo. Eles nos olham do passado. Nós, sempre nos olhamos do passado.

Por trás das máscaras que usamos para nos comunicar com o mundo, no mudo, reside o oceano de todos nós. Resta-nos apenas saber de que abismo somos feitos, para nos encontrarmos nas camadas profundas de nossa alma.

Parece que sempre haverá o último verso escrito, a última nota tocada, e com o tempo o último detalhe esquecido.  Na melodia das coisas que acabam, saudade se torna canção que ecoa como brisa, acariciando as pétalas caídas de uma flor outrora aberta e gargalhante.

Na cadência eterna do amor e da perda: o que há no coração de tudo o que termina? O sol sempre se pondo, se impondo, te empurrando para frente sem esperar você se juntar: engole o mar(choro), menina, no horizonte a escuridão é apenas prelúdio!

Ilusões e dores que nos arrancam o ar, são tributos à beleza e à tragédia da efemeridade da vida que nos vai todo dia, das sombras dos opostos grudada na psique negada. E qualquer caminho escolhido leva sempre a morte. Não importa por onde formos. A vida leva a morte.

O enfrentamento para a integração de nossos opostos sempre nos enfia passagem para trem de mudança goela a baixo. E cansa o eterno… ciclo.

Como duas faces de uma mesma moeda: é como ser um, mas não o mesmo.

O a-mar, é do mar se apartar… para a felicidade buscar, arriscar, confiar.

E quando o amar nos abandona, nos deixa, é para o mar a tendência do voltar. Com o gosto que já se conhece na boca, e na falta, em abissal retornar, condensar no velho abismo sem endereço.

O mesmo, mas não o mesmo, mar.