Ao observar atentamente o meu próprio processo de construção do que conheço, volto em pontos iniciais interessantes dessa jornada. Como cheguei a pensar da maneira como penso hoje? Como compreendo as experiências que vivencio? Quais ferramentas criei para receber a vida ?

Trilhar o caminho de volta da construção do saber, é conhecer a metamorfose de pensamentos que moldaram meu ser ao longo do tempo, e o meu atual estado de pensamento. Como erigi o edifício do pensamento que hoje habito? Em que esquinas da mente, nas encruzilhadas das experiências, forjei as fundações do que sou? O que em mim é conhecimento autoral? Como conheço a vida que conheço?

A questão fundamental que norteia essa minha reflexão é: como se deu a gênese das estruturas cognitivas que compõem a tessitura da minha compreensão atual da vida?

A epistemologia do eu, me parece um campo vasto e complexo para os domínios do autoconhecimento. Pois a noção de verdade subjetiva surge como uma peça central nesse exame.

Minha verdade subjetiva é um momento presente. A constatação de que essa verdade é um ente fluido, em constante transformação, provoca a necessidade de análise criteriosa do fenômeno de vir a ser, do contínuo desenvolvimento pessoal. A verdade subjetiva, como uma borboleta efêmera, dança em minha consciência.

E além disso, tem o uso intencional dos termos, uma prática linguística que transcende a mera denotação semântica, uma manipulação lexical como instrumento para expressar e persuadir, especialmente no âmbito da autoconvicção. Wittgenstein defendeu que o paradigma do uso intencional dos termos oferece lentes analíticas precisas. E aí, palavras tornam-se ferramentas de escultura, esculpindo a expressão dos sentimentos no mármore da comunicação. A relação entre a linguagem e a experiência pessoal revela-se complexa.

Em que medida manipulamos os termos para ecoar nossas verdades? Às vezes, até mesmo agendamos palavras para persuadir a nós mesmos.

A identidade conceitual que construímos, muitas vezes também não dialoga com os papéis socialmente estabelecidos ou esperados, gerando conflitos internos. Quais são os rótulos que assumimos como o ‘eu’ e quais são os rótulos que ocultamos sob nossas vestimentas? Quais são os rótulos ocultos, não expressos verbalmente, mas presentes em nossa expressividade? Como lidamos com as crises existenciais quando a corporeidade e a identidade entram em conflito? E o que, não passa de uma armadilha conceitual?

Rótulos, alguns visíveis, outros ocultos, permeiam nossa expressividade. São esses rótulos que moldam os nossos pesos subjetivos, ancorados em alguma parte do ser que nem sempre compreendemos. A busca pela verdade EM nós e DE nós mesmos torna-se imperativa.

A dialética entre corporeidade e construção identitária me parece uma linha de pesquisa fecunda. O que dizemos ser, conceitualmente e subjetivamente, aquilo que sabemos que somos, é o que realmente somos na expressividade das nossas ações e reações cotidianas, banais ou difíceis? Será que sabemos quem somos?

As crises existenciais, catalisadas pela desconexão entre a identidade percebida e os imperativos sociais, projetam-se como fenômenos dignos de análise fenomenológica. A auto investigação sobre os rótulos que permeiam nossa expressividade demanda uma sondagem nas profundezas da armadura conceitual.

Às vezes, o papel que assumimos, tentamos ou gostaríamos de assumir, não reflete a nossa verdade essencial, e isso é um ato de deslealdade com a própria alma. Me parece que fingir que não sinto como sinto, que não penso como penso, é negligência para comigo mesma. Nos momentos em que as emoções são intensas, harmonizar genuinamente, o sensorial com o abstrato – com honra – torna-se desafiador.

A temática da autenticidade, eleva-se à categoria de imperativo ético. A negação própria, o esforço em dissimular sentimentos e pensamentos, pode ser uma desconsideração com nossos próprios processos.

Qual é a nossa verdade, e qual é a verdade em nós?