Se um dia o amor me pareceu existir,
foi porque em teu peito pude dormir.
Foi tua boca quem um dia me ensinou
qual língua se fala no céu. Lembra?
E foi tua língua, quem me fez réu.

O pêndulo subiu alto, oscilamos entre os extremos, testamos os limites da queda e do voo. Nossas veias foram trilhas abertas à faca, buscando o que de mais fundo nos sustentava, e nos derrubava.

Te toquei e vi o avesso:
O amor foi fundo, foi raiz,
não se fez leve, nem espuma…
Foi febre, fogo, cicatriz.
Foi destino ou foi viagem?
Foi só miragem ou milagre?

O amor foi até os ossos, adentrou a medula, foi se entranhando como raiz que não pergunta ao solo se pode ficar. Te acarinhava e era como alcançar a mim mesma do outro lado da pele. Mesmo agora, longe, ainda há um músculo invisível que nos mantem parte de um mesmo corpo celeste.

Fomos tudo e somos nada.
De noite estrelada a triste alvorada,
ainda orbitamos, sem pouso,
a mesma constelação naufragada.