A Roda da Fortuna não é roda, nem fortuna.
É o girar do vento dentro da gente,
sem perguntar ao tempo se deve girar.
Um girassol sem saber se é manhã ou tarde,
e no girar não avisa se vamos rir ou chorar.

Desde que o mundo roda redondo
em círculos do tempo sem se deter,
é o deleite dessa Senhora ver num segundo,
o que sobe descer, o que cai ascender.

É dez da carta que semeia as maias,
de face dobrada, permanências ao léu.
Diz a Senhora em suas saias rodadas,
que vida vivida é à deriva, é a lei sem réu.

Ela nos lambe enquanto nos afunda o peito.
Em seu eixo, as paixões se dilatam insatisfeitas,
na exata medida dos desejos satisfeitos.

De destino em destino, de céu a abismo,
a Fortuna brinca com nossas esperanças
anunciando dias melhores em suas andanças.

Qual é o bem realmente nosso?
Da salvação à perdição,
Altos e baixos são nossa condenação.

Eu a vi desenhar caminhos no chão,
como se soubesse o que eu ainda não sei,
para onde vai o passo que ainda não dei.

…desde que mundo é mundo,
o livre arbítrio é um sono profundo.