A política quer ser as mãos de quem se ajuda sem olhar partido. Porque partido parte a gente. Democracia exige honra. E a honra anda assustada com tanto paletó sem bolso de compaixão.

Nossos ministros confundem cadeira com trono, Bíblia com bala, sentença em massa com justiça, manifestação descontrolada com golpe, enquanto governantes tiram self com o caos como quem visita um zoológico. A verdade, coitada, vive em exílio voluntário, sem CPF, sem partido, sem legenda.

O Congresso virou ringue de vaidades, e o povo, gente da gente, plateia sem bilhete, é quem sente a fome. A esperança não mora em Brasília, mas no puxadinho que se ergueu com ajuda de vizinhos e na marmita dividida. A política de verdade está no moço que organiza a fila do postinho, na mulher que vai à câmara exigir o básico: dignidade. E enquanto isso, tem gente assim, presa.

Uns porque quebraram o que não era deles em nome de uma ideia torta de pátria. Outros, embalados na ilusão de dias melhores. Talvez agora, eles também entendam que a honra não grita e nem se ajoelha para discurso inflamado. A honra não invade — ela cuida. Não quebra — constrói. Não se esconde atrás de devoção a político de estimação — ela mora no dia a dia do povo que acorda cedo, que vota com esperança e reza baixinho pra ter remédio no postinho.

Quem promete e não cumpre, não erra só com o verbo. Erra com a alma. E alma ferida não vota de novo! O Brasil não cabe mais nas urnas. Ele está nas panelas vazias, no carrinho vazio mas pesado no super mercado, nas mãos de quem cansou de aplaudir mentira com a própria esperança.

O Brasil fez do 8 de janeiro um espelho rachado: cada pedaço reflete uma versão do país. Tem quem veja vilão, tem quem veja mártir. Mas o que falta mesmo é ver gente! Ver além do vermelho e do verde-oliva. Porque entre os escombros do Congresso e as grades da Papuda, ainda mora o Brasil — confuso, partido, cada um com seu jeito torto de buscar a mesma coisa que eu e você: a felicidade, apenas ser feliz. A honra está escondida nos silêncios de quem deveria gritar junto. Política de verdade, precisa tratar feridas sem fingir que só um lado sangra.