Patricia volpe

Eu sou água. Minha alma é água.

E como água, sei que às vezes sou serena e às vezes sou destruidora. Busco meus caminhos escorrendo por entre pedras e cascatas, a procura do mar.

Ora sou cachoeira de águas rasas, disposta a ser explorada, a ser vista. Ora sou lago aguardando ansiosa a chuva para me transbordar.

Às vezes , sou lago calmo e silencioso que anseia o vento para encrespar minhas águas e mover meu fundo.

Às vezes sou mar, águas profundas. Segredos e sentimentos obscuros são o que guardo em minhas profundezas. Ameaço, viro sal.

Em olhos turvos viro onda, depois evaporo, fico leve, nua, e chovo… Volto ao fluxo. Sigo. Rio.

Gosto de ser água, pois como água nada me retém. Se não estou bem, evaporo-me, me transformo, me transmuto, fujo para o alto, escapo, para de novo água ser.

Como água, penetro. Tomo todas as formas, porém nenhuma. Não quero ter cheiro, cor ou gosto, mas tudo quero ser. Minha mente é inquieta, como inquietas são as águas do mar.

Mente viajante e errante, coração transbordante de todas as emoções e de todos os sentimentos. Preciso sentir todos eles.

Quem água é nunca para. A mente e coração buscam sempre se integrar ao mar. O mar que é vida, que é vastidão, que é céu e inferno.

O mar que é a solidão mais profunda. Portador de toda a História, conhecimentos e segredos.

O mar que é comunhão, berço de toda vida, início e fim da jornada. Talvez só da minha, mas é. Sou como a água, sigo ciclos, eu querendo ou não.