Nós, somos capazes de nos envolver na dança da existência, enredados na sinfonia da vida. Mas, veja bem, a verdadeira vida está na compreensão do que é viver: é se misturar ao presente, se embrenhar naquilo que a gente realmente pode tocar, onde a gente está, onde é de verdade nosso e real, que é o agora. As outras coisas da vida nos chamam pra dançar e, no meio disso, roubam nossa vida.

A vida é a melodia que começou com o verbo. E “Ele disse: ‘Haja luz’, e criou-se a luz.” “No início era o Verbo”, o sopro primordial, o som que ecoa desde o começo. E o que seria do som sem o silêncio? O som precisa do silêncio pra existir.

No silêncio, a gente consegue escutar a ‘palavra’ que nos faz ser quem somos, a palavra que nos molda, aquela que a gente veio dizer pro mundo e que só a gente pode falar, a palavra que justifica a nossa existência nesse presente, na integração de todos nós no agora. Às vezes, ela fica calada, abafada pelos barulhos diversos da vida que nos distraem, nos iludem, nos bagunçam os sons.

Existe uma sabedoria na voz do silêncio, e hoje ela me disse que eu tenho o direito de escolha, e que as escolhas passadas não dizem tudo sobre quem sou. Que tenho direito de escolher, direito genuíno e misericordioso de errar e de mudar, de lidar com as minhas consequências amorosamente, contanto que eu esteja sempre tentando expressar a minha palavra. As culpas são correntes que nos prendem, e dá pra morrer debaixo do peso dos desgostos.

O que ofereço ao universo são meus sentimentos, emoções intensas, como um tributo ao meu próprio cosmos. E aceito ser quem sou, gostando de sentir muito e profundamente, pois isso sou eu, parte da minha palavra única. Todos nós somos a verdade, a verdade da nossa palavra que mora no silêncio mais profundo e nobre.

Aceito os meus espinhos, e aceito que todos também carregam os seus, e está tudo bem. Juntos, no presente e em silêncio, formamos a coroa de espinhos de Cristo. Me sinto lua, me sinto cheia, como um espelho virado pro sol.

– À Graziela Vanni, a pastora de consciências no silêncio.