Quantas lembranças cabem nos lugares pela cidade?
Quantas saudades alheias enxameiam os lugares?
O quanto de nós reverbera nos recantos, serpenteia nas esquinas?
De quantas Marias precisa-se para salvar as culpas enfiadas em uma Eva?
Quais as mais densas aflições que os corações caminhando pelas praças carregam?
O quanto de decepções um coração é capaz de suportar?
Quantas tempestades foram necessárias para gerar o mar calmo sob o sol do poente?
Magnífico, soberano, refletindo a majestade e a divindade do universo?
Quanta desordem é preciso para parir uma construção?
Quanta confusão se permite para erguer um edifício de sonhos?
O que se faz para arruinar a fé? E para manter a fé de pé?
Quantos socos são necessários para tirar a dignidade de alguém?
Quantas cicatrizes são necessárias para criar o calo que irá nos proteger da toxicidade
de sentimentos que nos foram mentidos, dos abusadores de almas?
Transmudo solidão na palavra liberdade.
O não perdoar passa a ser para comigo mesma, solidariedade.
E por eu não perdoar, volto a sentir meu coração grande, coração casa, coração eu.
Abro janelas, me salvo do abuso, volto ao frouxo riso…
O sorriso que me lembrei ter e que estava por aí perdido.