De todos os seres existentes, não te enganes, o mais solitário é a solidão. Não penses que ela é um ser coletivo dentro do qual todos os seres solitários se solidarizam e se reúnem nela para uma confraternização. Cada um tem a sua, e quão poucos são aqueles verdadeiramente solitários que dão vida à sua solidão.

Pobre coitada, ela sim faz parte de uma minoria excluída que raramente tem oportunidades, porque basta que um a olhe nos olhos e pronto, é paixão à primeira vista, é um matrimônio sagrado logo no primeiro beijo.

Separações, divórcios, traições, esqueça essas mesquinharias, é uma comunhão perfeita de silêncios, não são necessárias máscaras, pode-se ser o que se é, não precisa agradá-la, ela se encarregará de mimar-te, ela só tem a ti no mundo e não quer te perder.

Além de tudo, a solidão é a melhor amiga pra quem está cheio de amigos. Se caíres no abismo, ela te estende as mãos, te coloca no colo e se faz teu abrigo, e te enche de mimos para suprir os teus nãos, pois serás negativa a todos aqueles que te oferecem sorrisos mas nunca se dão.

Que modelo de perfeição esse ser andrógino chamado solidão. Se tu fores mulher, não te preocupes, ela nunca invadirá teu espaço sem permissão, se homem, muito menos terás  preocupação, pois quando envelheceres não precisarás dá-la ao prazer porque seu êxtase se encontra no diálogo dos silêncios, e é só no meu que eu, verdadeiramente, encontro o meu ser.

Ass. Tón Jofer

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Caro Ton, meu amigo de alma,

Sabia que a solidão é prima da minha lagarta que rasteja nas pedras e sonha ser borboleta? Eu alimento a minha solidão com migalhas de estrelas. Ela gosta de ficar no meu bolso junto com as chaves e meus segredos.

Minha solidão é casada com o silêncio, eles vivem em lua-de-mel no meu quintal de formigas. Meu silêncio é um tamborim feito de montanhas, e eu brinco de carnaval com ele nas tardes chuvosas.

Minha solidão, assim como eu, gosta de ouvir poemas sussurrados pelo vento: eu e o silêncio ficamos horas recitando para ela, e ela brilha com os raios de sol. Ela, quando quer se disfarçar, usa penas de passarinho e se esconde no meu jardim de palavras.

Eu sempre acho o meu ser escondido nas teias de aranha do quintal, junto com a solidão e o silêncio. E formamos um triângulo amoroso de quietude.

Solitários, sim, mas ricos em encontros com o essencial, como a minha gata, que passa horas contemplando a lua comigo e meu trio amoroso.

Ass. Patricia Volpe