Seguro minha alma entre os dentes

para que não fujas de mim.

Tento me lembrar de almar, pois ando fora de mim.

Minha poesia fugiu, se esconde,

foi parar não sei aonde.

Deve ter voltado para Deus,

ou foi salvar alguém que não eu.

Fico oca, desidratada, esturricada…

Viro um pedaço de qualquer coisa

esquecida por estar quebrada.

Desejo mais um trago, mas é no vácuo

dentro de mim que trago

a vontade do fim, e por isso apago.

Mas ascendo, e vou sendo, divago.

Precipito um vício ao precipício de mim.

Meu coração parece que descompassa,

Perde o passo, quase para, assim sou tocada

na grandeza dos silêncios, vibro na pausa.

Como se, para a misericórdia merecer

viro intervalo entre notas, sou tocada

como corda solta de uma nota por acontecer.

Sei estar atada a um instrumento que toca Alma

de Marias imersas no comércio do mundo

feito de ferros, aços e construtores de passados

vendendo pressas em bazar barato do tempo caro.

Precipito um vício ao precipício de mim.

Vício antigo, entre minhas entranhas se agarra,

me olha nos olhos, não quer morrer assim.

Desejo lançá-lo fora como anjo caído,

e não suporto a dor de mutilar parte de mim.

Vontade emana vácuo e é o desejo quem atrai,

porque desejo é abismo: ‘pule’, ele diz.

Mas pule em sua vontade, senão você se trai.

E nesse ‘quem mata quem’, não matar é suicídio.

Desejos são medidas da vontade.

Por trás de meu desejo direcionado,

há em mim uma vontade sagrada.

Domino esse desejo, fortaleço a desgarrada.

Ou caímos os dois, e precipício vira estrada.