Estive por muito tempo perdida, de mim mesma. Na verdade, ainda tenho lá minhas dúvidas se sei realmente onde e quando estou. Ou mesmo quem é esse tal ‘eu’ que se perde por aí.

A consciência brinca quando a levamos a sério. Nunca sei se sei, ou se apenas acredito – se sei apenas aquilo em que acredito ou se acredito apenas naquilo que sei. E como posso saber se sei sobre qualquer algo, se não sei nada de um qualquer ‘eu’? Acredito nele?

Estive perdida por muito tempo. Apesar de não conseguir definir o que é tempo ou mesmo o que é muito.

‘Eu’ é palavra confusa. Palavras boas são as de prosear, mas prosear com o tal do ‘eu’ é complicado: quando falo comigo mesma, são minhas palavras que influenciam meus pensamentos, ou são meus pensamentos que influenciam minhas palavras?

Se existe uma constante no universo, é a mudança. Tudo vai mudando, em um eterno e constante movimento ilusionista: que de tão constante parece parado – como a ‘Música das esferas’ para os pitagóricos.

Percebo que estive perdida, mas isso não quer dizer que já me achei no alfabeto. Ou que venci o enfrentamento daquilo que o cigarro não resolve.

O que eu vejo, não o é mais em uma piscada de meus olhos. Meu cérebro diz que é – discípulo do ilusionista – mas, temos em nossas mentes apenas imagens fotografadas. O agora não pausa para ser observado, nunca chegamos realmente nele, se chagamos: já é passado. O agora é terra desconhecida, terra no nunca.

Desconfio ter que me libertar da domesticação das palavras para conseguir transpirar linguagem própria, minha língua nativa. Mas tem muito de cabeça em tudo e uma fuga que já não se foge mais.